O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, não transmissível, multissistêmica e de natureza autoimune. Não existe cura para essa patologia e sua etiologia ainda não é totalmente conhecida, mas a interação entre fatores genéticos, ambientais, infecciosos e hormonais é apontada como possível causa da doença.
Dentre as mais de 80 doenças autoimunes conhecidas atualmente, o Lúpus é uma das mais graves e importantes. Ocorre predominantemente em mulheres entre 15 e 40 anos, é mais comum em pessoas afro-americanas, hispânicas e asiáticas e sua incidência chega a ser três a quatro vezes maior em mulheres negras do que em mulheres brancas.
Manifesta-se em períodos denominados surto-remissão, alternando entre fases de exacerbação e inativação dos sintomas, que podem desaparecer completamente ou não na fase de remissão, muitas vezes deixando sequelas crônicas.
As características clínicas da doença não são específicas, sendo de intensidade leve, intermitente ou grave e podem ou não ocorrer de forma combinada, dependendo do tipo de anticorpo presente, dos órgãos e células atingidos e da capacidade do organismo de trabalhar e corrigir esses “ataques”.
Manifestações da doença tidas como clássicas comumente afetam o aparelho locomotor, através de artralgias, mialgias e rigidez matinal, e a pele, com lesões discóides ao longo do corpo que coçam e descamam e / ou a erupção em borboleta, lesão morbiliforme, eritematosa e edematosa. Ambas se intensificam com exposição ao sol, nervosismo e ingestão de álcool.
Completam o quadro de sinais e sintomas principais perda de peso, fadiga excessiva, febre, náusea, cefaleia, depressão, vômitos, perda de cabelo, feridas na boca, face, orelhas, braços, ombros, peito e mãos, sensibilidade à luz solar e edema dos gânglios linfáticos e nas articulações.
Por acometer diversos órgãos e sistemas, o tratamento do LES é global e sintomático, proposto por uma equipe multidisciplinar, visando sempre preservar a capacidade funcional dos pacientes e minimizar as limitações que a doença implica, sem desconsiderar o impacto psíquico-social também provocado por ela.
Tipos de tratamento
Até o momento, não há cura para o Lúpus. No entanto, à medida que medicamentos mais avançados e testes diagnósticos se tornam disponíveis, a taxa de sobrevivência de pacientes com LES entre 15 e 20 anos de pós-diagnóstico atingiu aproximadamente 80% – o que nos permite concluir que os sintomas desagradáveis causados pela doença podem se apresentar ao longo de um extenso período.
Com base nessas considerações, como já dito, o tratamento tem por objetivo controlar esses sintomas, proporcionando condição de vida o mais próxima do normal ao paciente.
Tratamento medicamentoso
O tratamento é individualizado e depende do tipo de manifestação apresentada e dos níveis de intensidade e agressividade da doença.
Dessa forma, a pessoa com LES pode necessitar de um, dois ou mais medicamentos na fase ativa da doença e poucos ou nenhum medicamento nas fases de remissão.
O tratamento sempre inclui remédios para regular as alterações imunológicas do Lúpus e de medicamentos gerais para regular alterações que a pessoa possa vir a apresentar em consequência da inflamação causada pela doença.
Que outros cuidados as pessoas com Lúpus devem ter?
Além do tratamento com remédios, as pessoas com LES devem ter cuidado especiais com a saúde incluindo atenção com a alimentação, repouso adequado, evitar condições que provoquem estresse e atenção rigorosa com medidas de higiene (pelo risco potencial de infecções). Idealmente deve-se evitar o álcool e alimentos ricos em gordura.
Procurar apoio psiquiátrico, muitas vezes associadamente à intervenção psicológica, também é fundamental para que o paciente enfrente seus medos, busque mais informações sobre a doença e, assim, sinta-se motivado a manter o tratamento e seguir todas as orientações complementares na busca pelo alívio dos transtornos que o LES pode causar.
Outra medida muito importante é a manutenção de uma atividade física regular. Esta contribuirá não só para o controle da pressão e da glicose no sangue, mas também para incrementar a qualidade dos ossos, evitando a osteoporose, além de beneficiar o sistema imunológico e propiciar a liberação de neurotransmissores importantes para o combate à depressão, estresse, ansiedade, transtornos de humor, baixa autoestima e outras desordens psíquico-emocionais.
O objetivo geral dos cuidados com a saúde (incluindo os medicamentos) para as pessoas com LES é permitir o controle da atividade inflamatória da doença e minimizar os efeitos colaterais dos medicamentos.
De uma forma geral, quando o tratamento é feito de forma adequada, incluindo o uso correto dos medicamentos em suas doses e horários, com a realização dos exames necessários nas épocas certas, comparecimento às consultas nos períodos recomendados e os cuidados gerais acima descritos, é possível obter um bom controle da doença e melhorar de forma significativa a qualidade de vida das pessoas com LES.
Como o Pilates pode ajudar?
Sabendo que as queixas mais comuns de pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) são dores e rigidez nas articulações com consequente limitação de amplitude de movimento, fraqueza e atrofia muscular, fadiga extrema, depressão, edema em membros inferiores, obesidade e osteoporose, o próprio pensamento de se exercitar já pode ser considerado um desafio.
Tais sintomas, além de dificultarem a realização de suas atividades de vida cotidiana, comprometem a funcionalidade e levam ao isolamento social do paciente, impactando diretamente na sua qualidade de vida e em seu estado psíquico-emocional.
E é exatamente na minimização dessas dificuldades que a Fisioterapia e o Pilates visam atuar.
Atividade de baixo impacto, com sequencias dinâmicas e inéditas de exercícios a cada aula, respeitando sempre o limite da fraqueza, dor e insegurança do paciente, o Pilates visa aumentar a mobilidade articular, favorecer o retorno venoso, fortalecer o sistema imunológico e reduzir os efeitos colaterais do tratamento médico, diminuindo a sensação de fadiga, combatendo as restrições motoras, melhorando a percepção do próprio corpo, aumentando a capacidade de relaxamento e estimulando uma atitude positiva diante das dificuldades.
Independente de ser realizado no solo ou nos aparelhos, os objetivos são os mesmos: estimular e aperfeiçoar coordenação, equilíbrio, agilidade, condicionamento cardiovascular e respiratório, controle postural e emocional, flexibilidade, força e resistência globais, culminando na obtenção e manutenção do desenvolvimento uniforme do corpo associado a uma boa saúde mental e à possibilidade de realizar com facilidade as atividades de vida diária – tripé que embasa a capacidade funcional e que vai totalmente ao encontro do que buscamos oferecer aos nossos alunos: restaurar, manter e promover a melhora do sistema locomotor e da saúde como um todo.
Concluindo…
A resposta ao título do texto? PODE E DEVE!!!
Devido à dor musculoesquelética e articular apresentada pelos portadores de LES, associadamente aos distúrbios de depressão e ansiedade comumente apresentados, ocorre uma diminuição significativa de sua aptidão física e funcionalidade, traduzidas em baixo nível de capacidade aeróbia, dificuldade na realização das atividades cotidianas e fadiga extrema, criando um ciclo vicioso.
Quebrar esse ciclo é a tarefa do Pilates, melhorando o condicionamento cardiovascular, a força, resistência e flexibilidade muscular e a amplitude de movimento de forma global, diminuindo as dores e a fraqueza muscular.
Objetivando amenizar o sofrimento físico e emocional, desmistificar e minimizar as possibilidades de incapacidade funcional, aumentar a autoestima, promover a sociabilização e assim melhorar a qualidade de vida dos portadores de Lúpus, o Pilates pode ser tido como importante e fundamental tratamento complementar às medicações e demais orientações de vida saudável no combate à doença.
Se antes a Fisioterapia convencional era a principal indicação de tratamento, associada às medicações, para a redução da inflamação e da dor, hoje as aulas de Pilates representam uma alternativa terapêutica tão importante quanto, como forma de acelerar a recuperação dos pacientes e melhorar sua autonomia, através de um trabalho voltado para a harmonia entre corpo e mente.
No entanto, nunca é demais ressaltar que os exercícios sejam organizados de forma equilibrada, adequados às necessidades individuais, sempre integrados à equipe multidisciplinar e respeitem o repouso necessário e os períodos de exacerbação dos sintomas, além das fases de complicações.