Receber um diagnóstico de câncer é sempre difícil… Medo de morrer, de sofrer com o tratamento e de não conseguir vencer a doença são os principais relatos dos que enfrentam a notícia.
Com o câncer de mama não é diferente. Além de todas as sensações e sentimentos anteriormente descritos, a feminilidade está em questão.
A perda da mama, a queda dos cabelos e sobrancelhas por conta da quimioterapia, a fadiga e falta de energia causadas pela radioterapia, as dores intermináveis secundárias à hormonioterapia… São tantas queixas, muitas vezes minimizadas ou até banalizadas por quem as está acompanhando que elas chegam a desistir de se queixar… São mulheres fortes, mas que por se sentirem incompreendidas vão se fechando e em sua introspecção não percebem sua autoestima abalada, sua autoimagem corporal distorcida e sua insatisfação sexual constante.
Tendo como ponto de partida os déficits que os tratamentos para o câncer de mama trazem às pacientes, a Fisioterapia Oncológica visa auxiliar no alívio dos sintomas, ajudando-as a recuperar a funcionalidade e o desempenho nas atividades da vida diária, consequentemente melhorando sua qualidade de vida.
Como? O treinamento muscular prévio para preparar o corpo para a cirurgia e o tratamento cuidadoso durante o pós-operatório imediato, respeitando sempre o limite da dor e insegurança da paciente, assim como sua continuação dosada durante a radio e quimioterapia aumenta a mobilidade articular, favorece o sistema imunológico e reduz os efeitos colaterais do tratamento médico, diminuindo a sensação de fadiga, combatendo as restrições motoras, melhorando a percepção do próprio corpo, aumentando a capacidade de relaxamento e favorecendo uma atitude positiva diante das dificuldades.
Estimulada a realizar uma conexão mente-corpo na exigência da concentração durante a realização dos movimentos, a paciente se distrai do problema que a doença representa, se sociabiliza dividindo tensões e preocupações com alguém “neutro”, que desculpabiliza o riso e promove o aprendizado de formas diferentes de encarar a vida e o momento pelo qual está passando.
Um ponto interessante, diferencial citado por todas as nossas pacientes, é a possibilidade de irmos atendê-las em domicílio. Não prejudicar a frequência das sessões no início ou na continuidade do tratamento de fortalecimento e recuperação da funcionalidade quando se sentem mais fracas, indispostas e/ou não querem se expor saindo de casa é fundamental para alcançarmos bons resultados – brinco que assim não há desculpas: se Maomé não vai a montanha a montanha vai até Maomé J
Porém, apesar de todos os inúmeros benefícios conhecidos e sentidos na pele, muitas vezes nossas pacientes cansam da Fisioterapia Convencional. E temos que pensar em alternativas.
Uma opção que vem ganhando espaço neste tipo de tratamento é a Gameterapia (ou Exergames, como também são conhecidos). Sou suspeita para falar desta que é minha mais nova paixão, tema do meu mestrado, justamente com pacientes em recuperação de câncer de mama. E no que ela difere da Fisioterapia Convencional? Em uma definição bem simples, trata-se da associação dos exercícios com os vídeos-game – jogos eletrônicos captam e tornam virtuais os movimentos reais de usuários por meio de sensores de movimento, como plataformas, joysticks (controles) e câmeras.
O objetivo de promover a melhora da funcionalidade e mobilidade do paciente é o mesmo da cinesioterapia convencional, porém com estratégias de adaptabilidade a diferentes situações, a fim de ganhar habilidades de resolução rápida, superar o medo do movimento e gerar sensação de novidade a cada sessão, para assim promover melhor adesão ao tratamento e diminuir o absenteísmo às consultas.
Estudos apontam que, por ser uma forma prazerosa de se exercitar, os Exergames divertem, distraem e assim reduzem ansiedade, estresse e dor. Ao mesmo tempo, exigem atenção e foco e motivam o usuário por oferecer a sensação de realização e superação ao completar a tarefa e conseguir “passar de fase”.
O que vale ressaltar é que propiciar uma boa saúde mental, a possibilidade de realizar com facilidade as atividades de vida diária e o desenvolvimento uniforme do corpo é o tripé que embasa a capacidade funcional – traduzida em força, resistência, condicionamento cardiovascular, equilíbrio, coordenação, reeducação postural, cognição, memória, aprendizagem, alívio de stress, diminuição de medos e ansiedade – e que vai totalmente ao encontro do que buscamos oferecer às pacientes em tratamento por câncer de mama, independentemente da técnica fisioterapêutica que será adotada.
Em tempo: quis fazer essa postagem hoje para ainda se enquadrar no movimento do Outubro Rosa… Mas fica aqui um apelo: façamos campanha para conscientização da importância da mamografia, da adoção de hábitos de vida saudável e da realização dos exames de rotina semestral ou anualmente todos os dias, de janeiro a janeiro.
Ame-se, cuide-se, viva!!!
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